Branding em desconstrução

Ultimamente marcas se olham no espelho e, em tempos de harmonizações estéticas, decidem remover detalhes e excessos. O que há de novo por trás da prática do Debranding?

Henrique Iamarino
4 min readMar 24, 2021

O termo não é novo, ainda que esteja mais em pauta depois dos últimos anúncios de identidade visual de Burger King e Warner Bros — bem descritos no interessante artigo de Ben Schoot na Bloomberg Opinion.

O processo de Debranding em ação

Em 1995 a Nike foi pioneira no assunto, removendo o lettering e adotando o swoosh solitário como marca, estratégia chamada de Debranding. A gigante esportiva visava com isso ‘desconstruir e reduzir’ o aspecto corporativo de sua marca, tornando-a mais ‘amigável’ e ‘local’.

Moda passageira ou evolução natural do Branding, o debate está aberto. Não pretendo sustentar verdades absolutas. Mas é primordial que eu enfrente (e derrote!) um argumento sempre repetido nas fundamentações de quem tem apresentado seu redesign:

Os processos de Branding (ou Debranding) atuais se fazem necessários porque os desenhos de marca carecem, cada vez mais, de concisão e simplicidade no universo digital.

Permita-me discordar, sem moderação 👀

Como um apaixonado pela disciplina do Design estou sempre pronto a relembrar que a prática dessa função existe já há mais de um século, enquanto as telas nasceram há poucas décadas. E muito antes de qualquer pixel ser criado já haviam profissionais utilizando princípios de simplificação imagética afim de representar ideias e instituições — explorando percepção e cognição de maneira brilhante.

Desenhos simples e poderosos de marca povoaram o Séc. XX muuuuuito antes de sermos apresentados a pixels e DPIs.

Outros poderiam argumentar que o meio digital ‘ativou’ a necessidade de uma prática mais minimalista, para usar um termo da moda. Mas ao contrário do se crê, essa tendência também não é nada nova. O Minimalismo nasce como estilo arquitetônico sustentado por egressos da escola Bauhaus (1919–1933), onde também nasce o Design como disciplina. Indo mais a fundo descobrimos que a turma da famosa escola da República de Weimar considerava propostas iniciadas na década anterior, pelo movimento De Stijl (O estilo em holandês).

Depois de tanta digressão, eis a questão: Não seriam todos e quaisquer projetos de design exercícios minimalistas em essência? Na minha visão esse é justamente o ponto.

Seria mais justo assumir que, guiados por novas técnicas (‘se conseguimos fazer, por que não?’) os profissionais das últimas décadas embarcaram em tendências cools e deixaram de lado o bom design. Caso questione esse ‘bom’ em nome da subjetividade opiniosa recomendo os excelentes princípios de Dieter Rams, registrados em 1975. Escrevi sobre eles em 2016:

Remember, Remember — DR thoughts here!!!

Um exemplo feliz — direto da chapa

Em alguns casos, como o do Burger King, nada impediu o time criativo de unir duas necessidades: a otimização de seu design e o resgate de sua tradição. Em 2021 o logotipo retorna a um desenho mais simples e é ‘condimentando’ por novas aplicações, tipografia e variações. Vejo aqui um Debranding adequado e justificado — e não baseado em ‘o que a concorrência faz.’

Evolução da marca Burger King de 54 até 2021 — corrigindo a aberração de 99 🤮

Exemplos infelizes ou caminho sem volta?

Contudo, em meio a um vendaval de redesigns é importante notar que nem sempre as mudanças visam a otimização do design ou se baseiam em justificativas adequadas. Algumas marcas têm basicamente anulado seus logotipos ao torná-los genéricos e esquecíveis. Imagino que ideia seja apoiar a comunicação em outros componentes de identidade e considero que não há nada de errado nisso, desde que não se confundam as argumentações. Debranding é uma coisa — descarte é outra.

Mercado de Moda com suas simplificações, as quais chamo de Rejeições

Moda passageira ou evolução natural?

Pessoalmente percebo uma tendência aí. Especialmente na linha do ‘mudar por que minha concorrente mudou’. Caberá ao tempo dizer se tais marcas voltarão atrás ou se abre-se aqui um caminho sem volta, em um futuro amparado por novas tecnologias e intenções. E você, o que acha? Obrigado pelos minutos de dedicação — deixe sua reflexão nos comentários.

Henrique Iamarino é um Visual Designer que casou-se com a internet e vive de pixels e jornadas digitais há muitos anos. Mas é também um apaixonado por História, o que o obriga a seguir ‘cavando’ em busca do que que foi produzido e pensado por boas mentes que nos precederam — em Design e na vida. Publica suas reflexões no Medium, no Linkedin e no Back To Visuals. Acompanhe!

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Henrique Iamarino

I believe in Human decency and the laws of Gravity. Designing WordPress at Automattic.