Estoicismo e a tranquilidade no Caos

Henrique Iamarino
5 min readFeb 9, 2022

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Conheça essa corrente filosófica gerada na Antiguidade Greco-Romana, uma memorável ferramenta mental em tempos de incerteza e stress.
Parte I de III · Leitura: ± 4 mins

Conta a lenda que Zeno, mercador de Citium (Chipre), perdeu sua frota na costa Grega no séc. III A.C. Falido pelo naufrágio viveu nas ruas de Atenas e se apaixonou pela busca da Boa Vida.

Depois de frequentar diferentes escolas filosóficas tornou-se Mestre de sua própria. Por ensinar nos passeios públicos da cidade, ditos Stoas, teve sua coletividade de estudantes chamada ‘Os Estóicos’.

The Wave, 1889 · Ivan Aivazovsky

Como funciona?

O ideal Estóico não se baseia em teorias complicadas e é por isso que o pensamento sobrevive e é retomado de tempos em tempos, voltando à moda. O Estoicismo se fundamenta em padrões essenciais que nos levam a lidar melhor com emoções e, consequentemente, nossas ações. Um guia prático de vivência, do Oriente antigo para nossos dias, no conturbado mundo real.

Existência segundo a Natureza; Razão acima das emoções; Atenção total ao Presente.

De forma geral o Estoicismo clama para que vivamos guiados pelo Modus Operandi das coisas, ou a Natureza do Universo. Solicita o uso da Razão acima das Emoções — através de constante estudo, reflexão e prática.

Entre virtudes e vícios

O Estoicismo se apoia na idea do aperfeiçoamento pessoal contínuo e busca constante pela Excelência de nós mesmos como seres viventes. São consideradas como objetivo de plenitude as virtudes essenciais: a Sabedoria, a Moderação, a Justiça e a Coragem.

As 4 virtudes Estóicas

Sabedoria → Necessária para identificar o Bom, o Mal e o Indiferente em nossa existência.

Nossa tarefa central na vida é identificar e entender as coisas claramente a ponto de discernir o que está fora de meu controle e O que têm a ver com minhas decisões. Onde planto Bem e Mal? Dentro de mim, nas escolhas
que são minhas — Epicteto

Moderação → Disciplina indispensável para o auto-controle e decoro na relação com o mundo.

Se buscas tranquilidade, faça menos. Mais precisamente, faça o essencial. Só aquilo que sua existência requer, e na media necessária. Faça menos e melhor e obtenha dupla satisfação. A maior parte do que dizemos e fazemos não é essencial. E ao eliminar isso nos resta tempo e tranquilidade. Pergunte-se a todo momento: ‘Isso é necessário?’ — Marco Aurélio

Justiça → Correção e gentileza, indispensáveis para defesa legítima do que é positivo à natureza do mundo.

Comprometa-se com a Justiça em todos os teus atos. Mantenha pensamento e ações voltados para o Bem comum. É para isso que você nasceu — Marco Aurélio

Coragem → Capacidade necessária para avaliar e enfrentar OS próprios medos afim de superar desafios.

Uns servem na linha de frente, outros no reconhecimento, outros ainda levam mensagens. A vida é como uma campanha militar, com suas batalhas longas e variadas. Nela cada um de nós ocupa um posto importante, do nascer ao partir. Vigie como um soldado e aja quando necessário — Epicteto

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Indo além das virtudes

Além de propor a busca constante pelas virtudes citadas, o pensamento estóico nos propõe uma técnica simples para identificar objetivos, seja no dia-a-dia ou a longo prazo.

A Dicotomia do Controle, técnica lógica primordial do Estoicismo, determina que devemos nos dedicar de forma prática e por inteiro a realizar o que está sob nosso controle — deixando para outro momento o que não está.

Silhouette by Joe Shields

Parece simples. Mas como saber o que posso realmente controlar?

Segundo os pensadores estóicos estão sob nosso controle nossos valores pessoais, julgamentos, opiniões e nossas atitudes. Fora de nosso controle está basicamente todo o resto — o que inclui ideais como reputação e estados como nossa saúde.

Devemos dedicar todo nosso esforço diário a trabalhar naquilo que está sob nosso controle. Todo o resto das coisas precisa ser aceito e compreendido como natural desta existência.

Estoicismo em ação

O pensador romano Cícero propõe uma metáfora interessante sobre essa Dicotomia. Pense em uma arqueira, como a Mérida, de Valente, 2012. Imagine que ela se prepara para um tiro. Certamente houve muita prática antes disso. Existem muitas questões de mecânica, sensoriais e de foco a serem equacionadas até que a fecha seja solta. Mas depois disso não há mais nada a ser feito. Muitos elementos poderão inviabilizar o melhor disparo (vento, alvo em fuga, etc) mas não é por esta etapa que o atirador(a) deve se cobrar.

Você não conecta sua auto-estima ao resultado final e sim ao processo.

Mais sobre as origens do Estoicismo, seus expoentes, as conexões da Filosofia com o Cristianismo de hoje e vários lemas célebres nos próximos posts desta trilogia estoica.

Bibliografia

Muitos links serão deixados para o último post de trilogia. Aqui destaco minha participação num papo com os queridos senhores do UmaConversa Podcast, o melhor podcast católico de 2021 — premiado pela Rede Vida e CNBB.

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Henrique Iamarino

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